Férias, na quarentena?

 

Imagem ilustrativa | Foto: pixabay.com

 

O Coronavírus chegou de forma inesperada para todos, alterando a rotina à qual já estávamos habituados. Pensávamos que tudo se resolveria com rapidez, mas logo vieram as determinações governamentais, e se tornou imprescindível cumprirmos a quarentena em casa, com a família. Nós não vemos o vírus; a princípio, não podemos senti-lo e nem imaginar quantas pessoas estão infectadas e podem se tornar transmissoras, e por isso, faz-se necessário que permaneçamos em casa.

Situações assim, em que não temos tempo para nos prepararmos com antecedência, tendem a ser grandes geradoras de estresse em nossas vidas.

Se nós, após mais de um mês de isolamento, ainda estamos confusos com as mudanças na rotina de trabalho, escola, casa, atividades, pensem só como está sendo para uma criança? Não poder ir à escola, estar de férias porém, não poder convidar um amigo para brincar; sequer sair de casa para correr ou andar de bicicleta (ainda que seja no próprio condomínio). Diferentemente das outras férias, nesta, elas não tem a opção de sair, passear. Talvez você esteja vivendo isso aí na sua casa, com os seus filhos.

 

Imagem ilustrativa | Foto: pixabay.com

 

O distanciamento social de atividades como inglês, esportes, entre outros, além do afastamento da escola, tem refletido diretamente na forma como as crianças estão tendo que lidar com o tempo que lhe são apresentadas.

Para nós adultos, já está sendo difícil lidar com essa nova “administração do tempo”, pois temos que cumprir as nossas obrigações trabalhistas em casa, além de ter que usar a tecnologia totalmente a favor destas. Estamos acostumados a usar da tecnologia, porém o contexto atual tornou tudo muito diferente. A nossa tendência é ficarmos em casa, com muitas pessoas no mesmo ambiente, e ainda assim tentarmos manter o ritmo “normal” de trabalho, o que é uma grande ilusão.

Para as crianças não é diferente, pois estão em casa no período integral, e não podem fazer o que comumente, poderiam e gostariam de fazer. Principalmente as crianças que tem uma rotina cheia, com muitas atividades, devem estar sentindo intensamente esta mudança. Este “tempo novo”, pode provocar um “emaranhado” de emoções, como raiva, tristeza, angústia e ansiedade para que esse período acabe logo.

O que então podemos fazer para tornar esse tempo mais leve e produtivo?

O primeiro passo, diz respeito ao entendimento do que é o processo histórico a que estamos inseridos, utilizando, é claro, da linguagem delas, explicando assim, o porque precisamos ficar em casa nesse tempo e os cuidados que precisamos ter. Para isso, não é necessário expor os números alarmantes dos casos. É só uma fase, um processo, assim como tantos outros que já existiram e passaram. Que tal contar para as crianças, uma experiência que você já tenha vivido em relação à alguma privação? Como costumamos dizer é um tempo de “perder para ganhar”.

Outro aspecto importante, é que não devemos exigir da criança o mesmo ritmo que ela estava tendo antes desse período, afinal, algumas delas ainda estavam também em processo de adaptação escolar. Não é porque ela está em casa, que precisa trabalhar o mesmo tanto que nós. Estando em casa, podemos fazer pausas entre uma atividade e outra, principalmente quando sentirmos que o corpo e a mente precisam descansar, incluir momentos de oração, que talvez antes não existiam, beber mais água, etc. Sendo assim, podemos aproveitar para conhecer como a criança administra o seu próprio tempo, auxiliando naquilo que for necessário.

É importante também, proporcionar momentos em que elas possam expressar o que estão sentindo. Uma sugestão prática, é iniciar uma atividade ouvindo uma música ou fazendo um desenho, e a partir disso, conversar sobre como ela está, compartilhar e ressignificar sentimentos, que, por vezes não estão lhe favorecendo (isso vale inclusive para os pais!).

 

A criança deve expressar o que está sentindo| Foto: Eugênia Fraante /instituto.cancaonova.com

 

A criança neste momento, mais do que nunca, precisa dos nossos cuidados, da nossa presença, acolhimento, pausa, escuta.

Encerro, recordando o que Dom Bosco nos recomenda a respeito dos momentos de lazer e recreação (e não e de ócio!): “Não pretendo com isso que vos ocupeis desde a manhã até a noite sem descanso algum; pelo contrário, eu vos concedo com gosto as diversões próprias à vossa idade, nas quais não ofendais a Deus. Ademais podeis também divertir-vos com jogos e entretenimentos lícitos, úteis para recrear o espírito e o corpo; mas não tomeis parte neles, sem haver antes pedido a devida licença. Preferi os que requerem agilidade e destreza corporal, por ser os mais convenientes para a saúde. Evitai os enganos, os subterfúgios, as pequenas fraudes, os jogos de mãos e as palavras que ocasionem discórdias e ofendam a vossos companheiros. Tanto no jogo como na conversação ou no cumprimento de qualquer dever, levantai de vez em quando vossos corações a Deus, e oferecei tudo a Sua maior honra e glória.” 


Franciane Priscila Rosa Braz

Missionária da Comunidade Canção Nova,desde 2018. Cursou Psicologia na Universidade Guarulhos. Ama ler e conviver com os amigos.
Atua no Instituto Canção Nova como Psicóloga Escolar e também no Núcleo de Psicologia da Comunidade Canção Nova.