Sexta- feira Santa
Pe. Antônio Justino
A paixão do Senhor segundo São João destaca nos acontecimentos o aspecto da exaltação de Cristo. Na cruz Cristo reina, é exaltado, triunfa sobre o pecado e sobre o demônio e atrai todos a si. Por isso, hoje não chega a ser um dia de luto, mas é o dia em que celebramos o amor de Deus por nós, amor que chega à sua mais sublime expressão: Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Hoje, o coração se detém a contemplar como o filho Unigênito de Deus, eterno como o Pai, encarnado em nossa natureza humana, nos dá a maior prova de amor: morrer para nos salvar. Porque de fato, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Nós todos estávamos perdidos como ovelhas sem pastor, e ele carregou sobre si a iniquidade de todos nós. O castigo que nos dá a salvação se abateu sobre ele e através de suas chagas fomos curados. Cristo pagou com sua vida o resgate por meus pecados. Esta é a prova maior do seu amor por mim. Jesus Cristo, sumo sacerdote, que pertence ao reino dos céus, assume nossa natureza para livrar-nos de nossas misérias. É o autor de nossa salvação eterna.
Aos discípulos de Emaús Jesus explicará que o Messias devia sofrer para entrar na sua glória. Para dar a vida ao mundo, doou a sua vida. Seus sofrimentos alcançaram a salvação para a humanidade. O castigo que nos dá salvação se abateu sobre ele, por suas chagas fomos curados. A imagem do Servo nos cânticos de Isaías é desoladora e pode causar-nos profunda tristeza, mas nossa contemplação se volta para os frutos do sacrifício do Servo. Ele sofreu por nós, no nosso lugar, em benefício de nós: por sua causa temos a paz e fomos salvos. A meditação da Paixão de Jesus foi e continua sendo fonte de santidade cristã e caminho de conversão profunda. Hoje, nesta sugestiva liturgia da Sexta-feira Santa, ao mesmo tempo austera e eloquente, a nossa alma se inclina, como fazem os ministros no início desta cerimônia, se recolhe em oração, para adorar a Cristo na cruz. Procuremos ficar com Cristo no Calvário, e meditar profundamente sobre o amor do Pai por nós, suas criaturas.
Quando sentimos a solidão, a dor, os sofrimentos da alma e vem aos nossos lábios o lamento: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Por que vos esqueceis de mim? Por que não cuidais mais de mim?” é então que devemos voltar à cruz de Cristo e lembrar que ele se fez participante de todas as nossas cruzes e que nos acompanha até o fim dos séculos, em cada momento de nossa existência, especialmente nos mais dolorosos e penosos. Que maravilha descobrir de novo o valor da própria cruz como participação nos sofrimentos do Salvador pela vida do mundo! Quando o desespero bate à nossa porta, devemos recordar-nos que o Senhor é fiel à sua palavra, à sua aliança, e não se esquece nunca de nós, nunca nos abandona.