A sexualidade quando bem compreendida é bem vivida e se faz na íntegra a experiência do outro.
Síntese da obra da profª Dr. Pilar Vigil Portales (Chile)
O livro da professora Dr. Pilar Vigil (Para amar e ser amado) traz uma proposta inovadora referente a uma educação para o Amor e para uma sexualidade sadia.
Partimos do discurso baseado na concepção do amor como meta essencial do ser humano. É no amor que nos reafirmamos como pessoa, na construção de nossa dignidade pautados na premissa de sermos feitos a imagem semelhança de Deus. Temos os fundamentos da nossa fé pautada na possibilidade do amor, que nos vem como um dom que precisa ser experimento e cultivado.
Quando pensamos em Deus pensamos necessariamente no amor. Se Deus é amor, amar a Deus é amar o Amor. Santo Agostinho Bispo e doutor da Igreja expõem em sua Obra “A verdadeira religião” que Deus habita o interior do homem, e é a revelação do verbo. Ora, se Deus é amor, e o Mesmo habita o coração humano, quando amamos nosso próximo, amamos a Deus que é o Amor; sendo que, o amar o outro é amar o Amor.
Sem dúvida podemos nos apoiar nas palavras de São João apóstolo e na Filosofia de Santo Agostinho, tendo o amor como a grande referência na vida, sendo ele mais que um dom, é o próprio Deus.
Perceba que no amor compomos nossa humanidade, sendo necessário que estabeleçamos nossas relações em caráter personalista, ou seja, que resgata a integridade humana, marcada pela liberdade e comunhão entre as pessoas. Podemos pensar capacidade de amar além de um pressuposto religioso, mas é também uma disposição genética, e é a partir de nossa liberdade que investimos nessa condição biológica.
Na relação entre homens e mulheres, o amor não é nunca algo já pronto e simplesmente oferecido para ambos, mas precisa ser elaborado. É preciso interpretar o amor – em certa medida – como algo que nunca “é”, mas que “vai sendo” a cada momento, o que de fato cada uma das pessoas traz e na profundidade de seu compromisso (Karol Wojtyła).
Em nós seres humanos há uma constante busca de construção de sentido para que nossas vidas para que elas possam de fato valer apena serem vividas. O amor é a esfera da criação desse sentido, que faz com percebamos como somos únicos, irrepetíveis e insubstituíveis, o que nos personifica.
A pessoa é a unificação entre corpo e alma. Essa unificação poderia ser dividida em cinco âmbitos: espiritual, intelectual, emocional, físico e social. Dentro desta perspectiva global que compõem a pessoa percebemos sua sexualidade como parte integrante do ser, tendo o amor como referência e essência, o que ajuda-nos a desenvolver nossa sexualidade de forma sadia.
Ambos os sexos, masculino e feminino, são complementares: iguais e distintos ao mesmo tempo. São semelhantes para entender-se e diferentes para completar-se reciprocamente. O meu “outro” me faz ser “eu” na simbologia da completude recíproca, assim construindo nossa identidade. Essa identidade pessoal é uma constante construção, permitindo-nos a conhecer a nós mesmos.
A sexualidade quando bem compreendida é bem vivida e se faz na íntegra a experiência do outro. Conhecer-se a si mesmo, permite com que eu possa ser um “bom eu” para o “meu outro”, sendo que quando conheço outro necessariamente vou me conhecendo. A sexualidade do casal amadurece na medida em que é possível constituir um planejamento natural da família, como por exemplo, conhecer o período de fertilidade da mulher, o que possibilita a liberdade e a responsabilidade de quando serem pais.
As condições da sexualidade vão além de uma mera genitalidade, mas expressa todo o humano e sua expressão de afeto. Essa expressão é construída no matrimônio como sinal de amor que é o próprio Deus que se doa a humanidade. O ato conjugal é o gesto de doação ao outro o que dá significado a sua existência. Cultivar alguns valores constituídos na fé são essenciais para que o matrimônio garanta maior sustentabilidade diante daquilo que fomos chamados por Deus, na concretização da vocação pessoal nos diferentes estados de vida.
Todas essas reflexões propostas pela autora nesta obra pressupõe um processo de educação necessária. Uma educação pautada no amor, que vai além de estabelecer conhecimentos doutrinais baseados na fé, mas levar o educando a uma experiência legítima de amor nas várias esferas de relações humanas. É a iniciativa de expor no mundo concreto o amor que carregamos dentro de nós. É dar testemunho da fé em prol de uma legítima construção da pessoa humana em suas relações.
Esse processo educacional ocorre na família que é o primeiro lugar onde parte dessas relações acontece e que se deve construir uma educação no amor. A partir disso podemos compreender a escola com o papel secundário – porém não menos importante – de promotora da educação para o amor, completando o que fora iniciado na família. A terceira etapa de uma educação para o amor parte da atuação da pessoa na sociedade civil, agindo como membro ativo e contribuindo para a construção de um Estado que preserve a justiça e a dignidade humana. Cabe a nós membros efetivos do Estado, colaborar para que todo o sistema social tenha possibilidade de uma educação no e para o amor.
Esse modelo de educação rompe os moldes tradicionais pedagógicos que prepara as pessoas para vida. É preciso estender este olhar e ver a educação para o amor não como uma “preparação para a vida”, mas sendo a educação para o amor “a própria vida”.
No século XXI a Igreja não se abstém destas discussões vinculadas a questões de ordem afetivo-sexual. Cabe a Ela como a representação de Deus na Terra o compromisso de levar as pessoas estas reflexões, com o objetivo de testemunhar a Boa nova do Evangelho, defendendo os princípios básicos da fé cristã, tendo como foco a qualificação da vida humana na pessoa de Cristo.
Cabe a todos nós enquanto Igreja e membros da sociedade secular, trabalhar em prol de uma “educação para o amor”, para que a mesma torne-se algo cada vez mais concreto em nossa sociedade, mostrando que viver uma sexualidade sadia num projeto de vida feliz não é algo utópico, mas possível e necessário.