Há 12 anos, quando tive a iniciativa de fazer o curso de licenciatura em Filosofia, uma das perguntas mais frequentes que amigos e familiares me faziam era: “Por que Filosofia?”. Na época eu mesmo não tinha clareza do porquê desta escolha, de certa forma havia em mim um “encantamento”, ainda obscuro, que a história da filosofia me provocava, e minhas palavras eram insuficientes para traduzir tal sentimento.
Depois de anos de trabalho de ensino de filosofia para alunos da educação infantil até a pós-graduação, tenho maior clareza do porquê construir uma carreira baseada na docência e filosofia. A prática da sala de aula favoreceu e justificou esse processo, aonde pude criar propósito para o “ato de filosofar”. Ora, os gregos diziam que uma vida que não fosse refletida não valia a pena ser vivida, deste ponto de vista, o ensino desta disciplina vai além do atendimento de uma simples exigência curricular, mas propõe de modo sistemático o exercício da reflexão sobre temas ligados a própria vida, e que por muitas vezes não têm a atenção necessária, são banalizados e consequentemente a vida num todo também acaba sendo.
Propor discussões e reflexões em sala de aula sobre: amizade, amor, cultura, religião, arte, conhecimento, etc; é uma forma de não apequenar a existência, ou seja, é fazer com que a mesma ganhe sentido e consequentemente desenvolvemos ferramentas para qualificá-la. A expressão “refletir”, significa repensar ou o pensar de modo profundo, uma análise de conceitos que se estende além do campo superficial das ideias, mas que as abrange de modo radical.
Questionar e refletir a realidade não são práticas naturais do ser humano, precisam ser estimuladas e incentivadas. É comum ouvirmos professores dizerem coisas do tipo: “tivemos uma boa discussão hoje em sala de aula”, como se boas discussões fosse o resultado de muitos alunos falando. Entretanto, não se deve verificar apenas a quantidade de alunos que falam, mas o que se fala, ou seja, qual a qualidade sobre o que se fala. Cabe ao professor de filosofia gerenciar esta prática com os alunos, tendo em vista aperfeiçoar o ato de refletir, que auxiliará posteriormente nas tomadas de decisões e condutas sociais de modo eficaz e promissor.
Seria arrogância reduzir o exercício de refletir a uma tarefa única e exclusiva da filosofia. De modo algum. O objetivo aqui é sugerir o ensino da filosofia como mais um dos recursos da educação para estimular a reflexão, não sendo a filosofia seu princípio ou fim, mas uma ferramenta que agrega e acrescenta na prática reflexiva de nossos alunos.
Sem dúvida, firmar esse compromisso com a filosofia e o ato de refletir é um gesto desafiador, complexo e encantador, que exige paciência e dedicação, afinal desenvolver o pensar na educação não é tarefa fácil, mas vale a pena por seus resultados.
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